quinta-feira, abril 24, 2014

Sejamos machos: falemos do medo de avião

Por Gabriel García Márquez

O único medo que nós, latinos, confessamos sem vergonha e até com um certo orgulho machista é o medo de avião. Talvez porque seja um medo diferente, que não existe desde nossas origens, como o medo do escuro ou o próprio medo de que se perceba que sentimos medo. Pelo contrário: o medo de avião é o mais recente de todos, pois só existe a partir do momento que se inventou a ciência de voar, há apenas 77 anos. Eu padeço dele como ninguém, com muita honra, e além disso com uma gratidão imensa, porque graças a ele pude dar a volta ao mundo em 82 horas, a bordo de todo tipo de aviões, e pelo menos dez vezes. Não; ao contrário de outros medos que são atávicos ou congênitos, o de avião se aprende. Lembro com nostalgia os vôos líricos da época do segundo grau, naqueles aviões de bimotores que viajavam entre os pásaros, espantando vacas, assustando as florzinhas amarelas do campo com o vento de suas hélices, e que às vezes se perdiam para sempre entre as nuvens, se espatifavam e era preciso sair à meia-noite buscar suas cinzas do modo mais natural: no lombo de uma mula.

o resto aqui - da Socialista Morena na Carta Capital

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