segunda-feira, dezembro 16, 2013

John Holloway: "Não há modelos ou programas de como sair do capitalismo"

Sociólogo afirma que é preciso novas formas de organização que superem partidos e governos

Por Rafael Zanvettor
Caros Amigos

O filósofo e sociólogo irlandês, John Holloway, teve seu livro Fissurar o capitalismo lançado no Brasil este ano pela Publisher, coincidentemente no mesmo mês de junho em que a população tomava as ruas. Nele, o autor mais uma vez se arrisca na difícil tarefa de quebrar um dos grandes consensos do marxismo e recusar o partido como meio para a emancipação da sociedade. Após o lançamento de Mudar o mundo sem tomar um poder, que já havia gerado dicussão entre a esquerda, e antes do lançamento de seu novo livro, o mundo foi tomado de revoltas e protestos de rua. Em entrevista à Caros Amigos o pensador falou sobre os protestos dos últimos anos e as possibiliades de emancipação para além do governo. Confira abaixo.

Caros Amigos - O senhor acompanhou as manifestações que ocorreram em junho no Brasil?

John Holloway - Sim, eu acho que todos no mundo assistiram o que estava acontecendo no Brasil... Não com muito detalhe, mas sim, claro, daqui pareceu muito entusiasmante.

Algo que caracterizou os protestos foi que os partidos políticos tradicionais não tiveram nenhuma força para conduzi-los. Você acha que isso é uma tendência geral dos protestos globais?

Sim, com certeza, eu acho que isso é uma tendência geral nos protestos por todo o mundo, quero dizer, uma coisa que ficou evidente é que ao mesmo tempo em que eles ocorriam no Brasil, haviam protestos em muitos outros países, na Turquia, acima de tudo, mas também em Estocolmo, na Suécia, e na Bulgária, ao mesmo tempo. E os protestos tinham características muito similares, eram protestos que se incendiavam por motivos diferentes, mas todos dividiam a mesma característica de rejeitar os partidos políticos tradicionais, e os partidos políticos não tiveram papel algum. A sensação era de que havia uma necessidade de recusa, de dignidade, eu suponho. Os protestos pulavam de um lugar ao outro, não se sabia aonde iam acontecer depois.

Há um enfraquecimento dos partidos de esquerda tradicional?

Acho que o enfraquecimento dos partidos de esquerda está ligado com a queda do estado de bem-estar social keynesiano, nos anos 1970. Você pode pensar no período entre 1945 e 1975 como um período no qual parecia possível garantir concessões significantes do capital através do sistema político e através dos partidos políticos de esquerda. Mas, depois da metade da década de 70, isso fica cada vez mais difícil em razão de uma integração mais forte com a dinâmica do capital global entre os diferentes estados, e, portanto, na intensificação da competição entre capitalistas em todo o mundo. Isso faz com que seja muito mais difícil que qualquer estado em particular ou qualquer governo em particular possa dizer: "Bem, nós iremos simplesmente dar as costas ao mercado mundial e procurar soluções justas dentro de nosso território". Bom, isso foi tentado, isso foi tentado no Brasil, e em outros países governados pela esquerda na América Latina, mas não acredito que funcione mais. Certamente não funciona do mesmo modo que pode ter funcionado digamos, há 40 anos atrás, 50 anos atrás. E o desenvolvimento do próprio Capital deixa muito pouco espaço para os partidos políticos de esquerda.

Acho que se você realmente escutar o que as pessoas estão gritando nas ruas, irá escutar: "O capitalismo é um fracasso! Um fracasso! Um fracasso!". E acho que isso é apenas o resultado da experiência das pessoas com o que quer dizer capitalismo, no momento atual, na crise atual. O capitalismo é um desastre para a humanidade, e esse desastre acontece de um milhão de maneiras diferentes, ele pode não ser visto com muita clareza, mas as pessoas experienciam o desastre que é o capitalismo. Elas sabem que não faz muito sentido, elas sabem, de acordo com sua experiência, que ir para partidos de esquera não irá fazer muita diferença. Então elas estão, por um lado, se revoltando, e ao mesmo tempo buscando desesperadamente por uma saída deste sistema.

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