quinta-feira, fevereiro 14, 2013

O povo pode estar sendo comprado a um preço abaixo da pechincha

Usados pelo voto

Jornal do BrasilPaulo Rosenbaum - médico e escritor 
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Alguém já escreveu que o povo sempre foi o fiel da balança, mas também é susceptível de cair em armadilhas. A democracia, quando excessivamente centralizada, ou com parlamentos enfraquecidos por gestões autorreferentes pode passar a não ser mais considerada democracia stricto sensu. O cabresto e a compra de votos têm sido alvo incessante de ações do STE, e vimos diminuir muito esta prática no país. Avanço institucional, apesar das acusações de partidarização do MP. A judicializaçao da politica, nesse caso, não é retrocesso, mas demanda da realidade.  

Quando se trata de subsidiar a população e trazer benesses financeiras e sociais para as pessoas, não está claro como essas práticas podem ser corretamente fiscalizadas. A função da República? Gerar e gerenciar bem-estar social e econômico. Mas, e a instrumentalização partidária destes benefícios? É isso que mereceria ser exaustivamente considerado. Especialistas em ética — quando não escolhem o silêncio — se manifestam pela naturalização daquilo que chamam de corrupção inercial. Vale dizer, não há poder que não seja corrompível, nem avaliação que não seja particularmente benévola quando se trata de analisar o próprio umbigo.

 A função da República é gerar e gerenciar bem-estar social e econômico

Os governos populistas da atual América Latina têm feito um trabalho ímpar quando se trata de distanciar a opinião publica e a mídia desse debate fundamental. Aliás, qual debate? Como a oposição não ousa contestar temendo ser considerada apátrida, estamos, literalmente, em um regime monopsista. Onde só existe um governo de cliente único: o "povo" que maciçamente o apoia. A rigor não e nunca houve "povo" como abstração homogênea. Somos apenas centenas de milhões de sujeitos distintos. Mas é evidente que vale mais a pena investir no discurso de massa, de preferência de uma que se possa modelar em laboratório político. Fica mais fácil desconstruir qualquer vestígio de resistência. Desmanchar todo foco que se insurja e que possa ser metido no armário, e lacrado como minoria descontente ou elite discricionária.

Mas supondo que haja uma unidade chamada neste papel de maioria. E a maioria apoia porque falta organização para demonstrar que isso não basta. Que cotas e carnês de renda fixa para alimentos, cultura e educação são apenas cala-boca de curtíssimo prazo diante de desafios muito mais importantes. A gula, além de ser um dos pecados capitais, é vicissitude que mata. Vale para a politica.

O desejo de supremacia foi particularmente hábil em criminalizar a oposição no Brasil. Nota-se pela timidez em exercer a crítica (o pouco que se veicula gera crises histéricas e ameaças de retaliação à liberdade de Imprensa) e o espaço público oferecido na mídia para gente sabidamente comprometida com a administração federal.

Cansados?

O povo pode estar sendo comprado a um preço abaixo da pechincha

Pois tirem o mensalão e a ficha limpa dessa história, e fiquem com os mais recentes negócios no Senado e na Câmara Federal. A quem interessa a desmoralização do Parlamento? Menos aos senadores e deputados e muito mais aos vigilantes arquitetos da hegemonia do Poder Executivo. A blindagem atingiu uma linearidade perigosa. Denúncias não geram um pingo de ressonância. Simplesmente, não há debate. Este é o aspecto terrível de nossa era. O novo presidente da Câmara não precisava falar uma palavra. Quem observou a gesticulação ríspida e tapas no balcão, já sabe o que nos espera.

O povo pode estar sendo comprado a um preço abaixo da pechincha se considerarmos o exagero centralizador da arrecadação federal. Nenhum beneficio social é mais importante que a geração da autonomia social e financeira. E, sabendo disso, quem opera politicamente o Brasil há tanto tempo não tem o menor interesse na emancipação de sujeitos. Velho e novo unem-se. O poder financeiro e o pragmatismo politico. E aqui, como em muitos rincões onde o diálogo soçobrou, governa-se pelo medo. Não só medo de que as pessoas adquiram discernimento critico da realidade, mas do aparecimento de uma consciência de como temos sido, numa escandalosa inversão, usados pelos votos.



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