terça-feira, dezembro 28, 2010

de Carl Sagan por Rosana Jatobá


Em 1994, o astrônomo pediu para que os controladores da espaçonave "Voyager" mirassem o equipamento para a Terra. Seria uma fotografia única, a bilhões de quilômetros de distância. O resultado foi uma imagem que mostrava um pálido ponto azul (Pale Blue Dot), título de um livro que Sagan escreveu tempos depois. Trata-se de uma mensagem capaz de redimensionar nossa visão de mundo. De nos remeter ao mistério da vida e sua constatação do quanto somos criaturas especiais: ínfimas frente ao vasto universo, e, ao mesmo tempo, grandiosas diante da magnitude da existência. O que desejo em 2011 é coragem para reconhecer esta dualidade e nos tornarmos seres melhores aqui neste pedaço de chão de todos nós!

Vista de uma distância cósmica, a Terra não parece ter nenhum interesse especial.
Mas para nós é diferente.
Este pontinho solto no espaço
É o nosso lar.
Somos nós.
Nele, todos a quem você ama,
todos aqueles que você conhece,
todos de quem já ouviu falar,
todos os seres que já existiram,
viveram suas vidas.
Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento,
milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas,
todos os caçadores e saqueadores,
cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilizações,
cada rei e camponês,
cada casal jovem apaixonado,
cada mãe e pai,
cada criança esperançosa,
inventor e explorador,
cada professor de moral,
cada político corrupto,
cada superastro,
cada líder supremo,
cada santo e pecador de nossa história
viveram aqui,
neste grão de poeira suspenso num raio de sol.


A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica.
Pensem nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores,
para que, na gloria do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos
de uma fração deste ponto.
Pensem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes de um canto deste pixel
contra os habitantes mal distinguíveis de algum outro canto,
o quão frequentes são seus desentendimentos,
o quão dispostos estão para matar uns aos outros,
e quão inflamados seus ódios.
Nossas atitudes, nossa pretensa importância,
a desilusão de que temos uma posição privilegida no universo,
tudo isso é posto em dúvida por esse ponto de luz pálida.
O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante.
Em nossa obscuridade, em meio a toda essa imensidão,
não há nenhum indício de que, de algum outro mundo,
virá o socorro que nos salve de nós mesmos.


A Terra é, até agora, o único mundo conhecido que abriga a vida.
Não há nenhum outro lugar, ao menos no futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar.
Para visitar, sim.
Para se estabelecer, ainda não.
Gostemos ou nao, a Terra é, por enquanto, o único lugar em que podemos viver.
Dizem que a astronomia é uma experiencia que forma o caráter e ensina a humildade.
Certamente não há melhor demonstração da tolice das vaidades humanas
Do que a imagem distante do nosso minúsculo mundo.
Para mim,
ela revela a responsabilidade de nos relacionarmos mais gentilmente uns com os outros,
para preservarmos e amarmos
este pálido ponto azul,
o único lar que conhecemos.